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RMachado

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

SINGULAR OPORTUNIDADE PARA SE TOMAR CONSCIÊNCIA




ORGULHO DA RAÇA – Erê, no idioma iorubá, segundo a Wikipedia, quer dizer 'brincadeira, divertimento'; nos antigos Aurélios - e também no Aulete - a palavra traduzia uma interjeição comum entre os índios e os caboclos da região amazônica e queria exprimir espanto, surpresa, alegria ou mofa, já a versão atual do Houaiss traz a definição de "ser espiritual infantil particular de cada iaô que costuma nela encarnar após os transes de incorporação do orixá de que ela faz de sacerdotisa."; para o presidente do Erê - Grupo de Consciência Negra da cidade de Capão Bonito (SP) Raimundo de Jesus, que nos traduziu o termo como sendo 'criança' em urubá, é imprescindível que a população compreenda que os negros foram e são parte essencial na costura da grande colcha de retalhos cultural que é o Brasil.
O objetivo do grupo, segundo seu presidente, é o de conscientizar a sociedade da importância da cultura negra e também o de resgatar alguns valores humanos básicos, como o respeito ao próximo, pilar da convivência harmoniosa entre os povos e da liberdade.
Carmem Silvia Pereira Polississo, que faz parte do Erê desde a sua criação em 2007, diz nunca ter sofrido qualquer tipo de preconceito de origem racial, afirma, no entanto, ser exceção à regra e alerta para a necessidade da conscientização dos próprios negros da cidade - que seriam poucos e dispersos - sobre a importância do grupo para aumentar as conquistas e também a autoestima da raça; para isso, a cada quinze dias os membros se reúnem para discutir temas importantes à negritude e também para preparar eventos como o realizado no último dia 20, em comemoração ao Dia Nacional da Consciência Negra, quando o grupo realizou o segundo concurso para eleger a beleza negra masculina e a feminina da cidade.

Em 2008, ao atender o chefe do poder executivo de Capão Bonito, a Câmara Municipal votou e aprovou a lei nº. 3153, instituindo feriado municipal em ato complementar ao previsto na lei federal nº. 10.639 de 9 de janeiro de 2003, que incluiu a data no calendário escolar, além de tornar obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. Gerson Hussar, atual presidente da Câmara capão-bonitense, em discurso durante o evento lembrou que até então havia apenas o ponto facultativo, o que não configurava nem mostrava o espectro de importância merecido pelos brasileiros afrodescendentes.
Na prática, infelizmente, de acordo com as palavras de Carmem Silvia, o que se conseguiu foi um 'feriado de papel', pois o presidente da Associação Comercial e Industrial de Capão Bonito (ACIAP), advogando em favor dos comerciantes da cidade junto à administração municipal, teria convencido o prefeito Julio Fernando Galvão Dias (PR) a relaxar o feriado, permitindo que o comércio abrisse as portas conforme a própria consciência, ou seja: transformando a comemoração em respeito à importância da raça negra numa espécie de ponto facultativo de luxo.
Polêmica, Carmem Silvia lembrou que a afirmação feita pelo presidente da ACIAP, alegando que o comércio da cidade não suportaria uma nova data de portas cerradas, não reflete a verdade, pois, para ela, o êxodo de consumidores que ocorre no final de ano tem relação principalmente com os preços praticados no varejo da cidade, não com fechamento dos estabelecimentos comerciais. Para Carmem, melhores preços e investimento da associação comercial na data só tem a trazer dividendos para os negociantes da cidade, já que as semanas anteriores aos eventos comemorativos ao 20 de novembro poderiam levar a população às compras.
Os vereadores apresentaram sua posição enviando extensa carta para a Redação do jornal local O Expresso, publicada no dia 21, onde expõem sua posição a favor da criação do feriado, porém, destacam o artigo 1º da lei 2327, que permite horário de livre funcionamento para as atividades comerciais e de prestação de serviços no município; ainda conforme a correspondência assinada por oito dos nove titulares da Câmara, esse artigo "simplesmente libera todos os comerciantes a trabalharem todos os dias 24 horas se assim quiserem.". Já o presidente do Erê afirma ter sido positiva a iniciativa do legislativo municipal e salienta que houve aproximadamente 50% de adesão dos comerciantes à comemoração da data, mas lembrou que é preciso persistir em conseguir que haja a plena consciência da importância das discussões envolvendo os temas de interesse comum.
Alheios às disputas entre legisladores, executivo e associação comercial e comerciários, os concorrentes desfilaram sua negritude na quadra da entidade Legionários em Defesa do Menor (LDM) onde foi armado palco para a realização do concurso de Miss e Mister, ponto alto do evento que teve também dança do ventre, capoeira, poesia e outras manifestações culturais.







Dois Pontos (análise): Os consumidores burienses, quando do recebimento do salário, aposentadoria, Bolsa Família e outros benefícios, lotam os ônibus que fazem a linha circular até Itapeva, onde vão às compras. Cabe salientar que a distância entre Buri e Capão Bonito é aproximadamente 10 quilômetros menor que a distância entre Buri e Itapeva.
Qual a razão, então, além de Itapeva ser a sede da Comarca do vizinho município?
A razão, segundo as pessoas entrevistadas nos terminais rodoviários e nos apinhados ônibus são basicamente duas: preços mais acessíveis e grande variedade de lojas e produtos. Ora, se seguirmos essa lógica buriense - que bem exemplifica o afirmado acima pela entrevistada - poderemos até considerar que a celeuma criada em razão da instituição do feriado em comemoração à data máxima para os brasileiros afrodescendentes é, para se dizer o mínimo: desnecessária e constrangedora; além de um erê de mau gosto.

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